sábado, 30 de janeiro de 2010

A elitização em números

Desde 2003 o Campeonato Brasileiro da Série A é disputado no sistema de pontos corridos. A Série B, desde 2006. E tal sistema de disputa restringe os títulos, invariavelmente entre os clubes das regiões mais fortes economicamente do país que o adota. Isto é, sim, elitizar.

Mas se eu afirmo com tanta certeza que o sistema restringe, eu preciso provar.

Começamos, então, com o Calcio, o campeonato nacional da Velha Bota. Observe que os pontos corridos foram adotados a partir de 1930; analise os números e perceba a diferença.

CAMPEONATO ITALIANO

ERA PRÉ-PONTOS CORRIDOS (Até 1930)
1 - Genoa 9 títulos (32,1%)
2 - Pro Vercelli 6 títulos (21,4%)
3 - Milan 3 títulos (10,7%)
4 - Internazionale 2 títulos (7,1%)
5 - Juventus 2 títulos (7,1%)
6 - Torino 2 títulos (7,1%)
7 - Bologna 1 título (3,6%)
8 - SG Udine 1 título (3,6%)
9 - Casale 1 título (3,6%)
10 - Novese 1 título (3,6%)

Genoa e Pro Vercelli ficaram com 53,6% dos títulos
Genoa, Pro Vercelli e Milan ficaram com 64,3% dos títulos
10 Campeões
Um novo campeão a cada 2,8 anos

ERA DOS PONTOS CORRIDOS (A PARTIR DE 1930)
1 - Juventus 25 títulos (32,47%)
2 - Internazionale 13 títulos (19,48%)
3 - Milan 14 títulos (18,18%)
5 - Torino 6 títulos (7,79%)
7 - Bologna 5 títulos (6,49%)
8 - Roma 3 títulos (3,90%)
9 - Fiorentina 2 títulos (2,60%)
10 - Lazio 2 títulos (2,60%)
11 - Napoli 2 títulos (2,60%)
12 - Cagliari 1 título (1,30%)
13 - Verona 1 título (1,30%)
14 - Sampdoria 1 título (1,30%)

Juventus e Internazionale ficaram com 51,9% dos títulos.
Juventus, Milan e Internazionale ficaram com 70,1% dos títulos.
14 Campeões
Um novo campeão a cada 5,5 anos.

CAMPEONATO HOLANDÊS

ERA PRÉ-PONTOS CORRIDOS (ATÉ A TEMPORADA 1955/56)
1 - Ajax 8 títulos (13,79%)
2 - HVV 8 títulos (13,79%)
3 - Feyenoord 5 títulos (8,62%)
4 - Sparta 5 títulos (8,62%)
5 - Go Ahead Eagles 4 títulos (6,90%)
6 - PSV Eindhoven 3 títulos (5,17%)
7 - Willem II 3 títulos (5,17%)
8 - H.B.S. 3 títulos (5,17%)
9 - RAP 2 títulos (3,45%)
10 - ADO Den Haag 2 títulos (3,45%)
11 - RCH 2 títulos (3,45%)
12 - Heracles 2 títulos (3,45%)
13 - Limburgia 1 título (1,72%)
14 - SVV (Schiedam) 1 título (1,72%)
15 - Eindhoven 1 título (1,72%)
16 - Roda JC 1 título (1,72%)
17 - Haarlem 1 título (1,72%)
18 - De Volewijckers 1 título (1,72%)
19 - BVV 1 título (1,72%)
20 - Groningen 1 título (1,72%)
21 - NAC Breda 1 título (1,72%)
22 - Quick 1 título (1,72%)
23 - SC Enschede 1 título (1,72%)

Não houve hegemonia* de quaisquer clubes
23 Campeões
Um novo campeão a cada 2,5 anos

Chamaremos de hegemonia quando dois clubes conquistarem mais da metade dos títulos.

ERA DOS PONTOS CORRIDOS (A PARTIR DA TEMPORADA 1956/57)
1 - Ajax 21 títulos (39,62%)
2 - PSV Eindhoven 17 títulos (33,96%)
3 - Feyenoord 9 títulos (16,98%)
4 - AZ Alkmaar 2 títulos (3,77%)
5 - DWS 1 título (1,89%)
6 - Sparta 1 título (1,89%)
7 - DOS 1 título (1,89%)

Ajax e PSV Eindhoven ficaram com 73,58% dos títulos
PSV Eindhoven, Ajax e Feyenoord ficaram com 90,57% dos títulos
Um novo campeão a cada 7,2 anos

CAMPEONATO ESPANHOL (DISPUTADO EM PONTOS CORRIDOS DESDE SEMPRE)

EM TODOS OS TEMPOS (75 CAMPEONATOS)
1 - Real Madrid 31 títulos (40,26%)
2 - Barcelona 19 títulos (24,68%)
3 - Athletic Bilbao 8 títulos (10,39%)
4 - Atlético Madrid 7 títulos (9,09%)
5 - Valencia 6 títulos (7,79%)
6 - Atlético Aviación 2 títulos (2,60%)
7 - Deportivo 1 título (1,30%)
8 - Real Sociedad 1 título (1,30%)
9 - Real Betis 1 título (1,30%)
10 - Sevilla 1 título (1,30%)

Real Madrid e Barcelona ficaram com 64,9% dos títulos
10 Campeões
Um campeão a cada 7,7 anos

O sistema de pontos corridos nem sempre restringe os títulos imediatamente; em alguns países a restrição se consagra ou aumento com o passar dos anos.

ÚLTIMOS 35 CAMPEONATOS ESPANHÓIS
1 – Real Madrid 17 títulos (48,57%)
2 – Barcelona 10 títulos (28,57%)
3 – Atlético Madrid 2 títulos (5,71%)
4 – Athletic Bilbao 2 títulos (5,71%)
5 – Valencia 2 títulos (5,71%)
6 – Deportivo 1 título (2,86%)
7 – Real Sociedad 1 título (2,86%)

Real Madrid e Barcelona ficaram com 77,14% dos títulos.

Percebe-se que o domínio de Real Madrid e Barcelona aumentou com o passar dos anos.

CAMPEONATO HOLANDÊS

ÚLTIMAS 30 TEMPORADAS
1 - PSV Eindhoven 14 títulos (46,6%)
2 - Ajax 12 títulos (40%)
3 - Feyenoord 3 títulos (10%)
4 - AZ Alkmaar 1 título (3,3%)

PSV e Ájax ficaram com 86,6% dos títulos
Apenas 4 campeões em 30 anos, média de um campeão a cada 7,5 anos.

CAMPEONATO ITALIANO

ÚLTIMAS 30 TEMPORADAS
1 - Juventus 12 títulos (40,0%)
2 - Milan 8 títulos (26,7%)
3 - Internazionale 3 títulos (10,0%)
4 - Napoli 2 títulos (6,7%)
5 - Roma 2 títulos (6,7%)
6 - Verona 1 título (3,3%)
7 - Sampdoria 1 título (3,3%)
8 - Lazio 1 título (3,3%)

Juventus e Milan ficaram com 66,6% dos títulos
Juventus, Milan e Inter ficaram com 76,6% dos títulos

OBS: Percebe-se que nos dois casos houve um aumento considerável no domínio de poucos clubes na disputa pelo título. Mais domínio de poucos clubes, menos surpresas, assim por diante.

Pra confirmar, vejamos um campeonato que sempre houve domínio de poucos, o Português. Mesmo assim, o domínio aumenta cada vez mais.

CAMPEONATO PORTUGUÊS

Esse é uma covardia, mas vale como exemplo.

EM TODOS OS TEMPOS (73 CAMPEONATOS)
1 – Benfica 31 títulos (41,33%)
2 – Porto 24 títulos (32,0%)
3 – Sporting 18 títulos (24,0%)
4 – Boavista 1 título (1,33%)
5 – Belenenses 1 título (1,33%)

Porto e Benfica ficaram com 73,33% dos títulos
Porto, Benfica e Sporting ficaram com 97,33% dos títulos
Um novo campeão a cada 15 anos

Domínio do Porto nos últimos anos:
Entre a temporada 1984/85 até hoje:
1 - Porto 17 títulos (68,0%)
2 - Benfica 5 títulos (20,0%)
3 - Sporting 2 títulos (8,0%)
4 - Boavista 1 título (4,0%)

Porto e Benfica ficaram com 88% dos títulos

Domínio de Porto e Benfica aumentou!

SERÁ COINCIDÊNCIA?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Craques da minha infância: Hamilton

Em meados de 1991, havia no CRB um meia-atacante de extrema habilidade e uma técnica raramente vista. Era praticamente o único destaque num CRB muito limitado, que não ganhava sequer um turno de campeonato há 3 anos (alguma semelhança com os dias atuais não é mera coincidência).

Tratava-se de Hamilton Lima e Silva, antigo centroavante do Cruzeiro na década de 80. Este foi o primeiro jogador do CRB que admirei ao ver jogar. Nas brincadeiras com bola - olha a coincidência - na Rua Hamílton de Barros Soutinho (antiga Santo Amaro), na Jatiúca, eu "era o Hamilton". Enquanto os outros garotos se diziam o Raí, o Valdo, o Romário, o Bebeto, o Luiz Henrique, o Careca, o Palhinha ou o Silas, eu fazia questão de ser o Hamilton.

Enquanto o CRB tinha um time limitado, o CSA tinha um timaço de fazer inveja, uma espécie de combinado dos melhores jogadores do futebol alagoano da década de 90: Flávio, Carlinhos Marechal, César, Fernando Lima, Edson, Ivanildo, Rinaldo, Ivan, Chico etc. Não havia como o CRB, de Hamílton e do já veterano Joãozinho Paulista, ameaçar o título azulino.

Veio o ano de 1992, e o CRB, agora renovado, era mais forte: foi buscar, no próprio CSA, César, Rinaldo e Ivanildo; este último retornando à Pajuçara. Além disso, as revelações Márcio Pereira, Jean e Jerônimo entraram o no time e corresponderam. Hamilton ficou no clube até o fim do primeiro turno, não participando do arranque final para o título de daquele ano, mas ficou gravado na minha memória o golaço na vitória contra o CSA, por 3 a 1. Hamilton aplicou um "banho de cuia" no zagueiro Café e tocou por cima do goleiro Flávio, isso tudo próximo da pequena área.

Abaixo, Hamilton com a camisa do Cruzeiro, onde foi artilheiro do Campeonato Mineiro de 1988:




Hamilton deixou o CRB e retornou a Minas Gerais, desta vez para jogar pelo América, onde foi campeão mineiro e artilheiro do campeonato. No Coelho, Hamilton fez história junto a Euller, o “filho do vento”:




Em 2009, auxiliar técnico no Villa Nova/MG:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

TORCEDORES fizeram em um ano mais que conselheiros e diretores em décadas!

A torcida do Clube de Regatas Brasil, através da Associação "CRB Acima de Tudo" e o Movimento "Galo Pra Frente" - união entre as torcidas do clube -, concluiu a cobertura da arquibancada ao lado das cadeiras.

Mais uma resposta para um Conselho omisso e avesso à democratização e participação do torcedor no dia-a-dia do clube. A resposta foi da melhor maneira: com ações em benefício do clube.

A inauguração foi ontem (24 de janeiro de 2010), na partida contra o Penedense (fotos abaixo).

Orgulho de fazer parte disto. Orgulho de verdade, de algo realizado; e não empáfia, típica dos canalhas do alto escalão do Conselho Deliberativo do CRB.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O torcedor constrói um novo clube

Após entregar o primeiro módulo do projeto de ampliação do estádio Severiano Gomes Filho, (...)



a Associação "CRB Acima de Tudo" realiza mais uma benfeitoria no estádio do Galo: a cobertura da arquibancada ao lado das cadeiras.



Parabéns aos alvirrubros de coração, ao torcedor simples que contribuiu e está fazendo um novo CRB.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Porque políticos NÃO devem dirigir o futebol

Creio que apenas numa coisa futebol e política são congruentes: ambos tiram o sono do brasileiro. A política, devido às mazelas de conhecimento de (quase) todos. São incontáveis os casos de corrupções e escândalos, numa proporção tão absurda que chego a pensar serem nossas (?) instituições políticas a representação de praticamente tudo que há de ruim: ganância, inveja, traição, vingança, oportunismo, egoísmo, manipulação, mentira, sede insaciável pelo poder, covardia, inversão de valores, vulgaridade, adulação etc.

E o futebol? Ah, o futebol, entretenimento de massas que, infelizmente, também não tem sido merecedor de respeito, pelo menos a “cartolagem”. Aliás, tudo o que tem como público-alvo as massas atrai os interesses ambiciosos das elites tupiniquins, ávidas de enriquecimento – lícito ou não, moral ou não.


Ah, vá, futebol e política tem muitas coisas (ruins) em comum, e não somente uma. Mas uma coisa é certa: futebol e políticos (profissionais) não combinam! Especialmente porque no Brasil se vê facilmente um horrendo contra-senso: dá-se muito mais valor ao futebol (ou aos resultados do clube de coração) do que a situação política, econômica e social do país. Duvida? Praticamente na mesma época, a não convocação do Romário para a Copa do Mundo de 2002 causou maior comoção do que o desvio de quase 200 milhões de reais na construção do TRT/SP.

E quando o lazer desvia nossas atenções de coisas realmente importantes, agindo como um entorpecente, suavizando ou agravando os desgostos da vida, é momento de repensar alguns conceitos. A doutrina de Marx apregoa ser a religião “o ópio do povo”; e no Brasil o futebol tem uma ação análoga.

Em suma, o futebol faz parte intimamente da vida do brasileiro. Aproveitando-se da notória (e direcionada) falta de instrução do povo, além das afinidades insanas que envolvem torcedor e clube de futebol, alguns espertalhões – pra não dizer canalhas – se apresentam (valendo-se, é claro, do poderio econômico) como remédios que combaterão o mal e a dor (forte, não?). Enfim, eles são os “benevolentes que alegrarão a massa desapossada”. É a política do pão e circo!

Um político profissional (aquele que dedica a vida por cargos públicos, defendendo os interesses dele próprio ou de uma oligarquia na qual ele está inserido) jamais poderia ocupar um cargo diretivo num clube de massa. É um contra-senso em si!

Este político não quererá jamais realizar um trabalho planejado em longo prazo. Tais trabalhos não atendem seus interesses. Ele não estará representando os interesses dos clubes, mas os seus próprios. Em algumas instâncias podem até coincidir – como um título, por exemplo. Título é curto prazo, o tal “jogador bilheteria” é curto prazo. Porém, é muito comum este benevolente diretor sobrecarregar as contas do clube e deixar as dívidas para seus sucessores.

Mas uma coisa é certa: o interesse individual-político virá sempre antes do interesse do clube.

A massa quer o título, custe o que custar. E como rege a política do pão e circo, deve-se agradar e distrair a população, de modo que esta não “se rebele”. Então, quer custe a estabilidade financeira do clube ou a moral do esporte, o trigo terá que estar pronto para o pão e o circo terá que ser armado.

A moral do esporte fica sob risco, sim. Para essa gente, os fins sempre justificam os meios. Que impeditivo moral tem essa gente para não corromper outro (jogador, juiz ou até o diretor do clube rival)? A história é quem relata! Não há como se opor aos fatos!

É com muita tristeza que leio a reportagem da Revista Placar, em sua edição de outubro de 1982, onde se relata a peita ao goleiro César, do CRB, através do então presidente do CSA, João Lyra.

Causa tristeza, claro. Mas quem à época ficou surpreso?

CRB, Meu Único Time

Senhores, fiz um breve vídeo em apoio ao grupo "CRB, Meu Único Time", presidido pelo amigo Ademar Passos.

Espero que gostem.

http://www.youtube.com/watch?v=XJpMotVjkzQ

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Mudança do calendário? Só pode ser piada!

Muito se tem pensado em soluções para os problemas do futebol brasileiro. Com o discurso demagogo de organizar os clubes brasileiros, criou-se um sistema que elitiza e exclui a maior parte dos clubes do Brasil. Nesta seara se encontram os clubes do Norte e Nordeste. CRB e CSA foram, sim, atingidos em cheio por esse sistema. Basta uma breve comparação: como estavam em 2002 e como estão hoje.

As soluções na verdade nunca foram feitas visando uma melhoria no futebol brasileiro como um todo. Estas nunca sequer foram pensadas. As tentativas de soluções visam os chamados grandes do eixo.

Recentemente, falou-se na possibilidade de mudança no calendário do futebol brasileiro e adequação ao calendário europeu. Alguns vêem – erroneamente, por óbvio – que seria esta uma solução para o êxodo que o futebol brasileiro está submetido. Engraçado é que, mais uma vez, tal alteração é pensada sob uma ótica elitista; ou seja, com os olhos de flamenguistas, são-paulinos, vascaínos, corintianos etc., em tese, os que tem seus jogadores mais assediados pelos grandes clubes do exterior.

As pessoas que hoje fazem o futebol são tão obtusas, que se esquecem do básico. Será que não existe uma lógica para que as férias européias sejam nos meses de junho e julho? Férias no inverno? Quem, diabos, irá querer férias assim?

E tal mudança passa longe de ser solução; com muita sorte pode ser um paliativo. E certamente com efeito em curto prazo. Lembremos que os mercados de Rússia e Ucrânia, que já exportam muitos jogadores, tem suas férias no mês de janeiro. Esses mercados são cada vez mais fortes; e os clubes brasileiros não conseguirão concorrer com estes. E os jogadores continuarão saindo indiscriminadamente.

O fato é que o futebol se transformou numa espécie de “contrabando de seres humanos”, onde, cada vez mais, o trabalhador (é isso que um jogador é) é tratado e aceito como uma coisa, uma peça. E nessa conjuntura, o Brasil tem uma categoria subsidiária. Todos os clubes brasileiros fecham o ano no vermelho – salvo os que possuem injeção estatal, lícita ou não, os tais “times de prefeitura”. Entre os grandes, os que são ditos mais organizados são os que tem saldo negativo menor. Porém, todos se enfraquecem em relação ao mercado europeu. Em outras palavras, uns enfraquecem mais rapidamente que outros, mas todos cedo ou tarde se abatem.

Mudar o calendário seria o mesmo que dizer “Vocês venceram! Nós, em desenvolvimento, somos inferiores”.

Definitivamente a mercantilização do futebol tem trazido mais prejuízos do que benefícios para os clubes brasileiros. Os clubes gastam o que não podem com jogadores e técnicos (muitos de qualidade questionável). Os jogadores no Brasil – diferentemente do mercado europeu – não dão o retorno financeiro, simplesmente porque o mercado consumidor brasileiro não dá conta. E os principais consumidores dos produtos do futebol, a saber, os europeus e os asiáticos, sequer conhecem os produtos do futebol tupiniquim.

E se os clubes gastam o que não conseguem arrecadar. Resta o que? Vender jogadores. A matemática é simples (e burra).

Simplesmente pagar menos a jogadores e técnicos não resolveria; aliás, agravaria a situação. É preciso buscar soluções, e não paliativos. Deve-se atacar a causa, e não a conseqüência. Isso é básico.

Pensaram num calendário mais organizado e com clubes que, em tese, teriam mais força para concorrer com o mercado externo. Não conseguiram, e, ainda, enxovalharam severamente os demais clubes. Acabou-se com os clubes formadores, aqueles que forneciam “mão-de-obra” para os maiores clubes do país.

Enquanto, no futebol brasileiro, cada um pensar exclusivamente no seu umbigo ou se organizarem oligarquicamente, não seremos verdadeiramente fortes.

Nós, alagoanos, devemos ficar atentos às idéias advindas do eixo e de sua imprensa bairrista. Nunca eles estarão preocupados com os clubes alagoanos. Nunca! Devemos tomar muito cuidado. E não estranhe no dia em que surgir a idéia de acabar com os estaduais. Já existe essa corrente (claro, de caráter elitista). Significará o fim do futebol brasileiro em sua essência. Diminui-los já foi um grande golpe.

domingo, 3 de janeiro de 2010

CSA estréia com derrota por goleada na Copa SP: muito além do placar do jogo

O representante de Alagoas na Copa São Paulo de Futebol Júnior, o CSA, estreou contra um forte candidato ao título, o São Paulo Futebol Clube. O resultado era previsível: vitória do Tricolor Paulista e com goleada (4 a 0); Lucas Gaúcho (2) Ronieli e Jeferson marcaram os gols da partida. Era preciso muito mais que uma zebra para fazer o CSA conquistar ao menos um empate. Valeu pelo esforço. Particularmente, gostei do goleiro Leandro e de algumas aparições do meia Thalysson. Muito pouco, muito pouco. Nem as questões táticas, onde se viu o CSA quase sempre tentando marcar atrás da linha da bola, são tão relevantes. A diferença era abissal!

O fato é que CSA e CRB não oferecem a estrutura necessária aos jovens das bases. Nem mesmo a política de seleção desses garotos é a mais adequada. É comum jogadores chegando ao time profissional sem o devido preparo emocional, tático e, especialmente, físico. A diferença de estrutura física dos atletas era flagrante no jogo em Jaguariúna.

Que lições podem ser extraídas disso? Cruzar os braços e se conformar com a diferença econômica que nos separam dos grandes centros é que não dá! CRB e CSA invertem suas prioridades, e não é de hoje. O mínimo de estrutura de fisiologia, fisioterapia, ortodontia e nutricional precisam ser prestadas. Até parcerias com o Poder Público poderiam ser feitas. Aliás, vale muito mais o apoio estatal para a formação do homem-atleta do que para custear salários do elenco profissional, como se acostumou em Alagoas.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um processo de desvalorização

Quando Lafaiete Pacheco e outros jovens fundaram, em 1912, o Clube de Regatas Brasil, os serviços de telecomunicações tupiniquins ainda engatinhavam. Um ano depois foi fundado aquele que viria a ser o maior rival do CRB, o não menos glorioso Centro Sportivo Alagoano – fundado, a priori, sob a nomenclatura Centro Sportivo Sete de setembro. Ambos polarizariam a rivalidade no estado de Alagoas durante décadas.

O CRB, com sede no bairro da Pajuçara, tinha nos bairros de Ponta Verde e Pajuçara a maior parte de seus adeptos. A torcida do CSA, por sua vez, concentrava-se nos bairro às margens da Lagoa Mundaú. O CSA aderiu ao futebol em 1915; o CRB começou a pratica de futebol um ano depois.

A rivalidade entre os dois clubes só aumentava. Maceió se dividia em CSA e CRB – o azul e o encarnado.

Os mais antigos certamente se lembram da Rádio Nacional – um marco na história do rádio brasileiro –, fundada na década de 30, no Rio de Janeiro. Estatizada, pelo Estado Novo de Getúlio Vargas – em 1940 –, a emissora passou a ser ouvida em todos os cantos do Brasil.

Com a propagação dos meios de comunicação, a interação entre as regiões do Brasil aumentou consideravelmente. Porém, a expansão cultural era feita no sentido Sudeste-Nordeste; ou seja, de lá para cá, nunca o contrário. A cultura, a arte e os costumes do Rio de Janeiro eram transmitidos para todo o Brasil. De tal modo que a cultura de cada região era diminuída paulatinamente. Assim, o cenário foi mudando. Inclusive, a paixão dos torcedores. A popularidade do rádio se deu imediatamente; e, com o tempo, transformou-se em febre pelos clubes do Rio de Janeiro. Não demorou muito para que os clubes de maior popularidade em Alagoas fossem os cariocas.

Em outras palavras, os meios de comunicação roubaram um pouco de nossa identidade. Furtou-nos, por assim dizer, o orgulho do que verdadeiramente é nosso. Passamos, lamentavelmente, a admirar o que é deles. Sequer nos dávamos conta – ingenuidade perfeitamente compreensível, diga-se –, por um segundo sequer, da lavagem cerebral que estávamos submetidos. A Rádio Nacional possuía àquela altura uma força midiática superior – considerando as devidas proporções – a Rede Globo dos dias atuais.

Com o tempo, a TV substituiu o rádio na condição de maior veículo difusor do Brasil. Na década de 60, surge a Rede Globo, também com sede no Rio de Janeiro, que se tornou o maior canal de TV da América Latinha (quarta maior do mundo). Mais uma vez os alagoanos eram submetidos e acostumados à cultura do eixo mais rico do país.

E os clubes locais? Tire o amigo leitor a sua conclusão: o Flamengo já tinha a maior torcida em Alagoas. Amigo, num jogo entre CRB e Flamengo, em 1976 – ano da melhor classificação do Regatas num Campeonato Brasileiro de Primeira Divisão –, entrou para história pela quantidade de torcedores do Flamengo em pleno Rei Pelé. O jogo foi matéria na Revista Placar da época, exaltando a “nação flamenguista” em terras alagoanas.

Os clubes paulistas só viriam a adquirir aceitação maciça entre os alagoanos a partir das transmissões de seus jogos em cadeia nacional – não coincidentemente, por óbvio. Clubes como Corinthians, Palmeiras e São Paulo também passaram a ter torcidas expressivas em Alagoas. CRB e CSA, para infelicidade da identidade alagoana, só diminuíam.

Percebe-se que, ao longo dos anos, foi feito uma lavagem cerebral nas pessoas das regiões periféricas do país, daqueles territórios que não fazem parte do centro socioeconômico brasileiro. Roubaram-nos a cultura e a arte: os folguedos, o bumba-meu-boi, os pastoris. Deram-nos a cultura deles, forçaram-nos a admirar o que é deles e menosprezar o que é nosso. Fizeram-nos menosprezar nossos clubes.

Penedense, CRB, CSA e ASA são exemplos de tradicionais e originais produtos do nosso futebol, da nossa cultura. Esses, sim, tem relação com nossas raízes.

A IMPORTÂNCIA DE VALORIZAR O FUTEBOL ALAGOANO:

1 – Valoriza o que é da terra, legitimamente nosso, genuinamente alagoano.

2 – Com o clube local sendo alvo de maiores interesses, a conseqüência é a necessidade de cobertura da imprensa. Assim, descentralizando as notícias da grande mídia, abrindo espaços para outros veículos, dando alternativas de buscas e aumento de informações. Essa concorrência da mídia só traz mais qualidade na cobertura.

3 – Torcer por um clube de sua região significa ter a chance de ir ao estádio costumeiramente, acompanhar treinos, ter proximidade com os ídolos etc.

4 – Nivela a divisão de cotas de televisão – maior fonte de receita dos principais clubes brasileiros –, diminuindo a desigualdade entre os clubes.

5 – Com mais torcedores, o clube passa a investir no marketing, gerando mais uma fonte de recurso. Criam-se produtos do clube da região, gerando mais empregos indiretos.

6 – Futebol é lazer! Um clube local forte é garantia de eventos e entretenimentos para a população.

7 – Evita a decadência do futebol do estado menor. Nosso estadual está cada vez mais espremido para atender às exigências da CBF, que quer priorizar o calendário dos grandes clubes do eixo. Por que priorizam esses clubes? Respondo: pois tem mais torcedores em todo país. A grande maioria dos clubes alagoanos joga apenas em três meses do ano. Futebol é a alegria do povo. O povo gosta de ir aos estádios. O nordestino ainda mais!

8 – Mais torcedores dos clubes locais, mais receitas (ingressos, sócios, vendas de camisas, chaveiros etc.) e mais empregos (jogadores, treinadores, massagistas, jornalistas, costureiras, ambulantes, porteiros, lavadeiras, enfim, todos os empregos gerados direta e indiretamente pelo futebol).

9 – Com os times da região fortes, teremos como conseqüência a criação de ídolos locais. A criação de ídolos estimula o espelhamento e a prática esportiva.

10 – Diminui a elitização (clubes ricos – do eixo – cada vez mais ricos, e clubes pobres – os demais – cada vez mais pobres) do futebol brasileiro.

11 – Fortalece até mesmo os pequenos clubes do interior, que tem nos estaduais a sua única oportunidade de participação.

12 – Não fornece ainda mais receitas aos clubes já privilegiados econômica e geograficamente, assistindo seus jogos e comprando seus produtos; clubes esses que estão longe e os seus simpatizantes não podem usufruir do que este capital proporciona.

A propósito, qual seu time de coração?

Blog estréia já entrando numa enrascada

Blogar é uma absoluta novidade para mim. Eventuais erros de formatação poderão – deverão, até – ser cometidos. Desde já, meus sinceros pedidos de desculpas.

Início de ano, momentos de apostas e desejos. E mesmo sabendo que muitos erros serão cometidos – pra falar a verdade, isso pouco importa – vou me arriscar. Quem será o campeão alagoano? Quem levantará a Taça FIFA, em Joanesburgo?

Posso acertar e posso errar. Posso, até mesmo, amanhã mudar de opinião!

Agora, revestido do poder de Mãe Dináh, vamos às apostas!

CAMPEÕES DE 2010
Copa do Mundo: Brasil
Libertadores: Cruzeiro
Copa Sul-Americana: Boca Juniors
Copa do Brasil: Grêmio
Brasileirão – Série A: São Paulo
Brasileirão – Série B: Sport
Brasileirão – Série C: Fortaleza
Campeonato Alagoano: ASA (que me perdoem os confrades alvirrubros)
Campeonato Mineiro: Cruzeiro
Campeonato Paranaense: Coritiba
Campeonato Pernambucano: Sport
Campeonato Carioca: Flamengo
Campeonato Gaúcho: Grêmio
Campeonato Catarinense: Avaí
Campeonato Paulista: Palmeiras

CONQUISTAS DE VAGAS NA LIBERTADORES, ACESSOS E DESCENSOS EM 2010
Além do São Paulo, que recuperará a hegemonia no Campeonato Brasileiro, Internacional (2º), Flamengo (3º) e Corinthians (4º), conquistarão vaga na Copa Libertadores de 2011.

Atlético Goianiense, Avaí, Ceará e Guarani serão os clubes rebaixados para a Série B de 2011, e serão substituídos na Série A por Sport, Coritiba, Portuguesa e São Caetano.

Tendo em vista o sistema elitista que hoje vigora no futebol brasileiro, que tem empurrado clubes do Norte/Nordeste para as séries C e D, mais uma vez a maioria dos clubes dos representantes da nossa região lutarão contra o rebaixamento. E, infelizmente, minhas apostas para o rebaixamento para a Série C de 2011 são: Duque de Caxias, América/RN, ASA e Icasa.

De mais a mais, estarei na torcida pelo clube do meu coração, CRB.