segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Porque políticos NÃO devem dirigir o futebol

Creio que apenas numa coisa futebol e política são congruentes: ambos tiram o sono do brasileiro. A política, devido às mazelas de conhecimento de (quase) todos. São incontáveis os casos de corrupções e escândalos, numa proporção tão absurda que chego a pensar serem nossas (?) instituições políticas a representação de praticamente tudo que há de ruim: ganância, inveja, traição, vingança, oportunismo, egoísmo, manipulação, mentira, sede insaciável pelo poder, covardia, inversão de valores, vulgaridade, adulação etc.

E o futebol? Ah, o futebol, entretenimento de massas que, infelizmente, também não tem sido merecedor de respeito, pelo menos a “cartolagem”. Aliás, tudo o que tem como público-alvo as massas atrai os interesses ambiciosos das elites tupiniquins, ávidas de enriquecimento – lícito ou não, moral ou não.


Ah, vá, futebol e política tem muitas coisas (ruins) em comum, e não somente uma. Mas uma coisa é certa: futebol e políticos (profissionais) não combinam! Especialmente porque no Brasil se vê facilmente um horrendo contra-senso: dá-se muito mais valor ao futebol (ou aos resultados do clube de coração) do que a situação política, econômica e social do país. Duvida? Praticamente na mesma época, a não convocação do Romário para a Copa do Mundo de 2002 causou maior comoção do que o desvio de quase 200 milhões de reais na construção do TRT/SP.

E quando o lazer desvia nossas atenções de coisas realmente importantes, agindo como um entorpecente, suavizando ou agravando os desgostos da vida, é momento de repensar alguns conceitos. A doutrina de Marx apregoa ser a religião “o ópio do povo”; e no Brasil o futebol tem uma ação análoga.

Em suma, o futebol faz parte intimamente da vida do brasileiro. Aproveitando-se da notória (e direcionada) falta de instrução do povo, além das afinidades insanas que envolvem torcedor e clube de futebol, alguns espertalhões – pra não dizer canalhas – se apresentam (valendo-se, é claro, do poderio econômico) como remédios que combaterão o mal e a dor (forte, não?). Enfim, eles são os “benevolentes que alegrarão a massa desapossada”. É a política do pão e circo!

Um político profissional (aquele que dedica a vida por cargos públicos, defendendo os interesses dele próprio ou de uma oligarquia na qual ele está inserido) jamais poderia ocupar um cargo diretivo num clube de massa. É um contra-senso em si!

Este político não quererá jamais realizar um trabalho planejado em longo prazo. Tais trabalhos não atendem seus interesses. Ele não estará representando os interesses dos clubes, mas os seus próprios. Em algumas instâncias podem até coincidir – como um título, por exemplo. Título é curto prazo, o tal “jogador bilheteria” é curto prazo. Porém, é muito comum este benevolente diretor sobrecarregar as contas do clube e deixar as dívidas para seus sucessores.

Mas uma coisa é certa: o interesse individual-político virá sempre antes do interesse do clube.

A massa quer o título, custe o que custar. E como rege a política do pão e circo, deve-se agradar e distrair a população, de modo que esta não “se rebele”. Então, quer custe a estabilidade financeira do clube ou a moral do esporte, o trigo terá que estar pronto para o pão e o circo terá que ser armado.

A moral do esporte fica sob risco, sim. Para essa gente, os fins sempre justificam os meios. Que impeditivo moral tem essa gente para não corromper outro (jogador, juiz ou até o diretor do clube rival)? A história é quem relata! Não há como se opor aos fatos!

É com muita tristeza que leio a reportagem da Revista Placar, em sua edição de outubro de 1982, onde se relata a peita ao goleiro César, do CRB, através do então presidente do CSA, João Lyra.

Causa tristeza, claro. Mas quem à época ficou surpreso?

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